26.3.07

Retratos da Infância

Retrato de Dom João IV, infante, Duque de Bragança, Pedro Américo, 1879
Óleo sobre tela Coleção MNBA, Rio de Janeiro

O retrato do Infante D. João IV, Duque de Bragança, de Pedro Américo é uma pintura histórica que mostra o lendário príncipe regente português, conforme a solenidade exigida pelos retratos oficiais. Na Idade Média, por exemplo, imagens de crianças não apareciam em pinturas e esculturas, denotando a inexistência de um conceito específico para a infância nessa época. Entre as profundas transformações legadas pelo Renascimento, encontramos o reconhecimento da infância como fase específica do desenvolvimento humano. A partir de então, esta categoria ganhou território na história da arte ocidental, transformando-se em motivo de retratos religiosos e leigos, cenas de gênero e, por vezes, em protagonista dessa história. No final do século XIX, poetas e artistas passaram a ver a infância como paradigma do ato criativo. Não estavam mais interessados na reprodução do mundo infantil, mas em retornar, de certa forma, à percepção primeira, sem preconceitos, atribuída às crianças. Para alguns dos mais importantes artistas do século XX, como Klee, Kandinsky, Miró e Calder, o impulso lúdico - ou impulso para o jogo - não era apenas característico da infância. Seguindo as reflexões do poeta e filósofo romântico alemão Friedrich Schiller, esse impulso também seria jogo estético e, portanto, artístico; seria atributo do homem e, mais do que isso, o definiria enquanto ser livre e espiritual. Para boa parte dos artistas modernos, portanto, a arte tornou-se sinônimo de espaço lúdico, compartilhando com o universo infantil o território da livre expressão.

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